Tons de Lisboa
Da Guitarra Portuguesa José Manuel Neto é um guitarrista que, aos quarenta e quatro anos, faz parte do grupo dos músicos mais importantes da História da Guitarra Portuguesa, quer como acompanhador quer como solista. É filho de uma grande fadista, Deolinda Maria, o que não é de somenos importância numa arte de tradição oral, e um herdeiro incontestável de muitos mestres: Armandinho, Francisco Carvalhinho, José Nunes, Manuel Mendes e Fontes Rocha. A partir das raízes do fado conseguiu criar um estilo singular, marcante e influente, músicos e fadistas, de todas as gerações, testemunham a sua importância directa e indirecta nos seus percursos artísticos, e a relevância do seu trabalho na arte do fado é unânime, é um músico que consegue aliar uma técnica extraordinária a uma criatividade e sensibilidade espantosas e, por isso, criar uma sonoridade tocante, inteligente e sem tempo. A alma de José Manuel Neto é muito antiga e simultaneamente moderna, delicada e intensa, alegre e triste, como acontece com os melhores instrumentistas, ele é um intérprete que sabe contar qualquer história, estado de espírito ou registo emocional, através de melodias e ritmos sobre os quais improvisa espantosamente, chegando a dar-nos a ouvir nuances musicais que dificilmente seriam escritas numa pauta, com uma naturalidade que faz esquecer a quem ouve a extrema dificuldade da execução e da interpretação da maior parte das peças e dos fados que escolhe tocar. Quando assisto a um concerto do José Manuel, tal como com outros grandes instrumentista que tive oportunidade de ouvir e ver em concerto, a humildade e a honestidade impõem perante a música, o músico e o instrumento tornam-se num só corpo desenhado por sons, pensamentos e sentimentos que transcendem o espaço e o tempo da própria vida. Guardo na memória, no coração e na alma concertos inteiros de músicos admiráveis, sendo que tenho o privilégio de José Manuel Neto ser, também, parte essencial do meu trabalho de fadista e, como se não bastasse, ainda é meu amigo. Obrigada por existires, Zé. Aldina Duarte 25.01.16